Por Eduardo Silva¹
Nirvana é punk rock misturado com Beatles. A frase lapidar atribuída
a João Gordo, líder da banda Ratos de Porão, ainda deve ser a melhor síntese
sobre o trio grunge, depois quarteto, liderado por Kurt Donald Cobain. As
letras do Nirvana eram confissões de uma mente perturbada. Pensamentos de
alguém que tinha pressa pra viver. Assim era Kurt Cobain. Morreu aos 27 anos, mas
enfrentou “pequenas mortes ao longo da vida”, como escreveu o jornalista americano
Charles R. Cross, na biografia Mais Pesado que o Céu. E essas pequenas mortes estão presentes em
clássicos como Heart-Shaped Box, Rape Me ou All Apologies.
Kurt Cobain colocou definitivamente seu nome na enciclopédia
do rock mundial quando Smells Like Teen Spirit explodiu nas rádios e TVs. A
violenta crítica sonora à apatia juvenil derrubou o pop da parada e colocou o
rock sujo de garagem no topo da influência musical e cultural. Camisas de
flanela passaram a compor a paisagem. De certa forma, voltando à frase atribuída
a João Gordo, o punk rock vencia novamente, como aconteceu na época dos
Ramones, agora com a banda de Seattle no comando. Kurt Cobain mal sabia tocar,
mal sabia cantar. Era mais uma prova – e aí voltamos à comparação principal com
o punk rock – de que é possível compor grandes canções sem ser um exímio
músico. Alguém disse: cantar bem possuindo uma bela voz é fácil; cantar bem sem
uma bela voz é arte.
Ele superou suas limitações artísticas e técnicas. Mas
jamais venceu o vazio existencial. Raramente foi feliz. É como se o sentimento passageiro
de dúvida sobre o sentido da vida, de agonia, que vez por outra atormenta a
cabeça de qualquer pessoa normal, fosse permanente em Cobain. Citando o
filósofo Luiz Felipe Pondé: o ser humano é um animal condenado a carregar nas
costas o tempo inteiro o cadáver da certeza da morte. Cobain tentava expurgar os
seus demônios nas músicas e na pintura, mas sempre restava algo por resolver.
A trajetória pessoal e artística de Kurt Cobain serve como hipótese
de resposta para a eterna pergunta: o que é a vida? A vida é breve e precária.
Como um punk rock tocado em três minutos e em três acordes. Boa, mas sem muito sentido.
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¹ Eduardo Silva é jornalista, editor da revista Marcas & Líderes e apresentador do programa Marcas do Campo na Rádio Pitangueira. É fã da banda Nirvana e do seu vocalista Kurt Cobain.
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