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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Uma vida com pressa pra viver


Por Eduardo Silva¹

Nirvana é punk rock misturado com Beatles. A frase lapidar atribuída a João Gordo, líder da banda Ratos de Porão, ainda deve ser a melhor síntese sobre o trio grunge, depois quarteto, liderado por Kurt Donald Cobain. As letras do Nirvana eram confissões de uma mente perturbada. Pensamentos de alguém que tinha pressa pra viver. Assim era Kurt Cobain. Morreu aos 27 anos, mas enfrentou “pequenas mortes ao longo da vida”, como escreveu o jornalista americano Charles R. Cross, na biografia Mais Pesado que o Céu.  E essas pequenas mortes estão presentes em clássicos como Heart-Shaped Box, Rape Me ou All Apologies.

Kurt Cobain colocou definitivamente seu nome na enciclopédia do rock mundial quando Smells Like Teen Spirit explodiu nas rádios e TVs. A violenta crítica sonora à apatia juvenil derrubou o pop da parada e colocou o rock sujo de garagem no topo da influência musical e cultural. Camisas de flanela passaram a compor a paisagem. De certa forma, voltando à frase atribuída a João Gordo, o punk rock vencia novamente, como aconteceu na época dos Ramones, agora com a banda de Seattle no comando. Kurt Cobain mal sabia tocar, mal sabia cantar. Era mais uma prova – e aí voltamos à comparação principal com o punk rock – de que é possível compor grandes canções sem ser um exímio músico. Alguém disse: cantar bem possuindo uma bela voz é fácil; cantar bem sem uma bela voz é arte.

Ele superou suas limitações artísticas e técnicas. Mas jamais venceu o vazio existencial. Raramente foi feliz. É como se o sentimento passageiro de dúvida sobre o sentido da vida, de agonia, que vez por outra atormenta a cabeça de qualquer pessoa normal, fosse permanente em Cobain. Citando o filósofo Luiz Felipe Pondé: o ser humano é um animal condenado a carregar nas costas o tempo inteiro o cadáver da certeza da morte. Cobain tentava expurgar os seus demônios nas músicas e na pintura, mas sempre restava algo por resolver.


A trajetória pessoal e artística de Kurt Cobain serve como hipótese de resposta para a eterna pergunta: o que é a vida? A vida é breve e precária. Como um punk rock tocado em três minutos e em três acordes.  Boa, mas sem muito sentido. 

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¹ Eduardo Silva é jornalista, editor da revista Marcas & Líderes e apresentador do programa Marcas do Campo na Rádio Pitangueira. É fã da banda Nirvana e do seu vocalista Kurt Cobain.

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