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sábado, 21 de fevereiro de 2015

“Saudades... Já não sei se é a palavra certa para usar”

Por Romário Alcântara¹


             Acordei com saudades hoje. Mentira: acordei porque tinha aula de sábado por esta manhã. No remexe-e-dorme-da-classe, devido à soneira, em meio à pacata aula, aí sim me deu saudades. De muita coisa. Principalmente quando o brasileiro era um povo burro, mas pacato. Melhor explico.

            Nasci em meio aos anos 1990, é verdade, porém me lembro bem do final daquela década e o começo dos anos 2000. Lembro-me que sempre houve manifestações para lá e para cá, contudo ainda havia um mínimo de dignidade – por pior que fosse a situação econômico-social daqueles tempos. Sim, sempre houve diversas discussões políticas, greves e tudo mais, entretanto ao menos havia algum valor moral imperando nisso. Havia discussões, havia engajamento, as pessoas eram gentes e, por incrível que pareça, ideologia era segundo plano: tínhamos um problema, e queríamos uma solução; de qual lado viesse era o que menos importava.

            Os “tiozões do CAPS LOCK” eram os que mais reclamam desde sempre da alta carga tributária. Professores já ‘panelavam’ há horas por melhores condições salariais da classe. Recém estavam discutindo o tal de ‘novo’ Código Civil (de 2002, que entrou em vigor em 2003). Vereadores saíam no tapa verbal pelas tribunas, exemplo este seguido pelos também burocratas estaduais e federais. Ao final disso tudo, embora tanta panaceia política, todos se juntavam para beber e fumar em uma birosca qualquer. Amigos, amigos, política à parte.

            Hoje, não. Viramos “yankees tupiniquins”. Assim como nos EUA um democrata mal cumprimenta direito um republicano, hoje são os petistas que mal podem enxergar os tucanos. E ai de quem for de uma pequena sigla: vira alvo de disputa; antes alvo fosse: vira objeto mesmo. “Esse ‘partido de aluguel’ é meu, eu quero meus preciosos segundos eleitorais nas redes nacionais de rádio e televisão!”, brada um lado ao outro, declarando-se com razão – razão maquiavélica, óbvio. Em tempo: isso sempre houve? Sim, porém não de modo tão descarado e tão sem vergonha alguma como agora. É uma (falsa) habitualidade que incomoda, remexe com o interior do cidadão comum.

            E ai de quem for apolítico ou apartidário... Pois os dois lados citados acima – que não passam de duas faces de uma mesma moeda (corrompida) chamada “estatismo” (a ‘religião’ moderna que mais possui adeptos ao redor do mundo) – lhe perseguirão por ser contra o voto obrigatório. “Como se um direito fosse dever”, já dizia eu, cansado de discutir com essa gente. Ser apolítico virou mais ofensivo que ser taxado de filho de meretriz. Ser apartidário virou algo mais indeciso que um fugitivo pego em cima do Muro de Berlim.

            De lá para cá, não formamos estudantes: formamos frequentadores de salas de aulas. De antes até agora, não formamos acadêmicos: somente sujeitos portadores de diplomas – que não passa de um “capital simbólico” sugestivo e fetichista – e que quando fazem algo, fazem-na tal como ativistas fariam, não como críticos advindos do ensino (?) superior (??). Do final do último milênio até a metade da segunda década do atual século, não houve incremento educacional ao nosso povo: no entanto, tão somente o crescimento ideológico. Paulo Freire deve estar se regozijando carcomido embaixo de uma tumba qualquer.

            Ao menos, naquele tempo, o povo até podia ser burro em algumas coisas, todavia em outras mantinha seu padrão moral mais conservado – e aqui não falo de religião, sexualidade, e entre outros, mas tão somente o trato com outras pessoas quaisquer. O “fio de bigode” era uma lei maior que as leis declaradas nas cartas políticas e constitucionais de onde é que fosse. Podia-se ser ignorante, se bem que melhor ser ignorante (como antes) do que estúpido (como agora). Ademais, vale ressaltar: havia mais cordialidade.

            Era engraçado ver nos bares de mais antigamente: o homossexual sendo chamado de “viadinho”, e ele só no ‘caras e bocas’, nem aí, ‘fazendo a egípcia’ diante da debochativa provocação. E o negro, então? Havia um conhecido meu que era reconhecido pela alcunha de “bugio”, devido a seu porte físico avantajado e sua tenaz pele provida de ALTAS melaninas. Chamavam-no assim e ele sorria – e o sorriso era o único traço branco dele, veja só.

            Não obstante, o melhor fica para o final: que tal um exemplo ocorrido comigo? Eu era gordo. Mas gordo feito “um pixel”, como diria um colega meu. Quadrado de gordo, uma melancia japonesa. Ok, no começo da minha infância eu fiquei sim de butthurt com o diário “♪gordo baleia, saco de areia, caiu na piscina, de bunda pra cima, roda gigante, bunda de elefante!♫” do pessoal. Só que o tempo passa, e a gente se acostuma. Depois, nem mais atenção a isso dá. Bons tempos que bullyng era uma escrota palavra que nem a pedagoga mais marxista da escola ousava falar... pois era simplesmente desnecessário.

            Por fim, vou dormir hoje com saudades. Que o povo, em geral, continuará meio burro e meio alheio a muita coisa, isso não há de se duvidar. E sim: eu me incluo no povo; afinal, não estou nos bastidores das mídias e negociatas parlamentares mesmo... Então: só sei que, disso, eu nada sei MESMO!... Dormirei ignorante acerca do que anda ocorrendo por aí. Embora eu vá dormir com a cabeça mais tranquila do que de costume: ao menos, não sou um estúpido ideólogo acreditando em falsos ”messias”.     

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1.      ¹Romário B. Alcântara escreve aos sábados, na correria mesmo, e anda meio nostálgico ultimamente. Até hoje o filho da mãe não sabe escrever uma bio decente para seus textos. 

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